As informações e as curiosidades da Copa do Mundo da Rússia com a análise do colunista Rafael Morais
Postado em: 01/06/2018
Rafael Morais
Alireza Beiranvand nasceu em Sarabia, no Irã, em uma família nômade que vivia se mudando em busca de pastagem para suas ovelhas. Sendo o filho mais velho, Alireza se acostumou desde cedo a trabalhar para ajudar sua família. Seu primeiro trabalho foi o pastoreio de ovelhas.
Aos 12 anos sua família se acomodou definitivamente em Sarabia e Alireza começou a treinar com um time local. Começou como atacante, passando a atuar como goleiro a partir de uma lesão do titular de sua equipe.
Mais tarde, buscando uma chance em alguma equipe grande do país, mudou-se para Teerã com dinheiro emprestado de um parente. Nesse mesmo ônibus conheceu o treinador de futebol, Hossein Feiz, que treinava uma equipe local.
Feiz informou ao jovem goleiro que o deixaria treinar caso pagasse uma quantia de 200,000 Toman (aproximadamente 200 reais). Porém Alireza, que não tinha sequer um lugar para dormir, não possuía tal quantia.
Passou suas noites ao redor da Torre Azadi, onde muitos migrantes pobres se concentram. Em uma das noites, um jovem vendedor lhe ofereceu um quarto em sua casa. Alireza aceitou sua oferta, porém mudou de ideia no caminho. Ele estava realizando um período de testes em um clube, e resolveu passar a noite em frente ao local onde treinava.
Em entrevista ao jornal inglês The Guardian, o iraniano conta que dormiu na porta do clube e quando acordou encontrou várias moedas que foram deixadas pelas pessoas que passavam pelo local: “Eles pensaram que eu era um mendigo! Bem, eu tive um café da manhã delicioso pela primeira vez em muito tempo.”
As coisas começavam a mudar. Feiz, o treinador de futebol, concordou em dar uma oportunidade à Alireza sem cobrar nada, e conversou com o capitão de sua equipe para acomodar o jogador em sua casa. O jovem goleiro ficou na casa do colega por duas semanas. Algum tempo depois começou a trabalhar numa fábrica de vestidos do pai de outro jogador de seu time em troca de um lugar para poder dormir.
Seu próximo trabalho foi como lavador de carros e, por causa de sua altura, se tornou um especialista em lavar SUVs. Um dia, porém, ele se encontrou numa situação delicada. A lenda do futebol iraniano, Ali Daei, trouxe seu carro para lavar. Os colegas de trabalho de Alireza aconselharam-no a falar com Daei a fim de buscar alguma ajuda para se desenvolver no futebol. O jovem goleiro, porém, não aceitou os conselhos de seus colegas, e não falou com Ali Daei. Ele preferia seguir seu próprio caminho, como disse em entrevista ao The Guardian: “Eu sei que se eu tivesse falado com o Daei ele com certeza teria me ajudado, porém eu estava com vergonha de falar com ele sobre a minha situação”.
Pouco tempo depois ele conheceu o técnico do Naft-e-Tehran e começou a treinar por ali. Em um primeiro momento, dormia numa sala de orações do clube, sendo que depois lhe disseram que não poderia mais passar as noites naquele lugar. Encontrou emprego numa pizzaria local para poder conseguir um lugar para dormir.
Na pizzaria, outro momento desafiador. Seu treinador, que não sabia nada sobre o emprego de Ali, veio comprar uma pizza no local. O goleiro não queria ser visto pelo técnico, porém o dono da pizzaria o obrigou a servi-lo, o que fez com que ele deixasse o emprego pouco tempo depois.
Achar outro emprego para ter um lugar para dormir foi difícil, o que fez com que ele aceitasse o emprego de gari. Algumas vezes ele tinha que varrer um grande parque sozinho, o que tornava difícil ficar apto fisicamente para os jogos.
Acabou dispensado do Naft porque acabou treinando e se lesionando por outra equipe, porém acertou com outro time, o Homa, mas seu treinador estava relutante em assinar um contrato com o jovem goleiro. Nesse momento, parecia a Alireza que seu sonho estava acabando.
Entretanto, algum tempo depois, o treinador do time Sub-23 do Naft lhe chamou e perguntou se já havia assinado com outro clube. Como não havia assinado com o Homa, pode retornar para o Naft. O goleiro acredita até hoje que se houvesse assinado pelo Homa, jamais teria alcançado o seu nível atual.
No Sub-23 do Naft começou a brilhar, sendo logo depois convocado pra a Seleção do Irã Sub-23 e mais tarde começou a atuar na equipe principal. Em 2015 se tornou o primeiro goleiro da Seleção do Irã, passando 12 jogos sem tomar gols nas eliminatórias, ajudando sua seleção a se classificar para a Copa de 2018.
Além de seguro embaixo das traves, o goleiro de 1,92m se destaca pelos lançamentos com a mão extremamente longos. Frequentemente lança bolas com a mão no campo do adversário e inclusive já deu uma assistência para um gol dessa maneira.
Atualmente joga pelo Persepolis, maior time do Irã, e além da expectativa de realizar uma boa Copa do Mundo, uma transferência do goleiro de 25 anos para a Europa também não é improvável.
Foto: YouTube